miércoles, 8 de junio de 2011

DITADORES E O FUTEBOL

O escriba Valdemir Mota de Menezes copiou a matéria abaixo do site: globoesporte.globo.com/.../tag/real-madrid/















Documentário revela ligação entre ditadores e o futebol

sáb, 27/12/08
por gm marcelo |
categoria Esporte e Cultura, História do futebol
| tags Barcelona, Di Stefano, Real Madrid, Sindelar

Amigos

Jogadores da seleção da Inglaterra fazem a saudação nazista antes de amistoso contra a Alemanha em 1938

Neste fim de ano, o SporTV preparou uma programação especial, com a exibição de documentários esportivos de alta qualidade. E uma atração imperdível do canal campeão para quem gosta de história do futebol é o filme “Fascismo e Futebol”. Produzido pela BBC, ele mostra como três ditadores europeus – Hitler, Mussolini e Franco – utilizaram o esporte mais popular do mundo para reforçar a força dos regimes que comandavam e conquistar mais apoio popular.

A Copa do Mundo foi alvo de interesse político logo após a sua criação. A segunda edição foi realizada na Itália em 1934, no auge do governo fascista de Benito Mussolini. O ditador desejava fazer com o país voltasse a ter o poder dos tempos do Império Romano. E considerou que a vitória da equipe da casa no Mundial seria uma forma de mostra a força da “Nova Itália”. E para conquistar o objetivo, não mediu esforços. Chegou a criar um troféu paralelo à Copa do Mundo, que ainda não se chamava Jules Rimet. A “Coppa Il Duce”, uma homenagem a si próprio, era imensa perto da pequena taça dourada oferecida pela Fifa à seleção campeã. E o líder italiano controlou diretamente os destinos da competição.

Na semifinal, a Itália teria pela frente a Áustria. Conhecido como “Time Maravilha”, a seleção austríaca estava invicta há três anos. O documentário revela que, na véspera da partida, “Il Duce” (o condutor, em italiano) jantou com o árbitro designado – por ele? – para a partida: o sueco Ivan Eklind. O tema da conversa não foi divulgado. Mas no campo, os austríacos não tiveram dúvida do que foi tratado. Josef Bican, atacante da equipe visitante, revela no documentário que o juiz chegou a interceptar com uma cabeçada um lançamento que fez para um companheiro. Com um gol polêmico, em um lance em que os austríacos pediram impedimento, a Itália venceu por 1 a 0 e chegou à decisão.

O último obstáculo para Mussolini alcançar sua vitória particular era a Tchecoslováquia. Para a decisão, o árbitro designado foi… o sueco Ivan Eklind. Que teria se “reunido” novamente com o ditador pouco antes da partida, na tribuna do estádio em Roma. Os tchecos entraram em campo conscientes de que teriam um adversário extra além da seleção da casa e dos torcedores italianos. Sob o olhar de Mussolini na tribuna, os visitantes marcaram aos 21 do segundo tempo (gol do atacante Puc), mas sofreram o empate a nove minutos do encerramento (Orsi). Na prorrogação, Schiavo desempatou e fez a festa da torcida e do ‘condutor’.

Quatro anos depois, a Copa foi realizada na França. Mussolini já não tinha o poder de comandar os destinos do torneio. Mas a competição não ficou livre de sua influência. Nas quartas-de-finais, o adversário dos campeões de 34 seria o time da casa. Para se diferenciar do azul do time francês, a Itália entrou em campo com uniforme todo preto. Uma referência direta à cor usada pelos seguidores de “Il Duce”.

Livro “Vencer ou morrer”Na Alemanha, o futebol também foi utilizado politicamente pelos nazistas. Em 38, o país disputou o Mundial reforçado com jogadores da Áustria, anexada em março daquele ano. A expectativa era que, com alguns dos melhores jogadores da Europa, a Alemanha brilhasse no Mundial marcado para a França. Mas o principal atleta austríaco não esteve presente. O atacante Matthias Sindelar, conhecido como “Homem de Papel” pela sua leveza e habilidade com a bola, se recusou a vestir a camisa alemã com a suástica no peito. Sempre alegava que estava machucado ou que já estava velho para o futebol (35 anos em 1938). Mas, na verdade, não queria defender uma equipe regida por um governo invasor e que havia expulsado seus colegas judeus do elenco do Áustria Viena.

A recusa reforçou a contrariedade de membros do Partido Nazista em relação ao jogador. Iniciada um mês depois da invasão da Áustria. O documentário apresentado pelo SporTV mostra raras imagens do amistoso em abril de 38 que marcaria a despedida da Áustria como seleção independente. A partida contra a Alemanha serviria para representar a superioridade das forças de ocupação. Mas Sindelar prejudicou os planos alemães. Capitão austríaco, o craque fez um dos gols da vitória por 2 a 0 e comemorou o tento dançando diante da tribuna repleta de oficiais nazistas. As pressões sobre o jogador e sua família acabaram de forma trágica em 23 de janeiro de 1939, quando o “Mozart do futebol” foi encontrado morto ao lado da namorada. Ambos envenenados por monóxido de carbono. A versão oficial foi que as mortes foram acidentais. Mas no documentário, um amigo de Sindelar revela que um oficial nazista aceitou alterar a ‘causa mortis’ para permitir que o jogador fosse enterrado com honras. Pela lei vigente, quem fosse assassinado ou cometesse suicídio – uma hipótese defendida por muitos – não podia ser enterrado de tal forma. Os documentos originais nunca foram encontrados. Mas Sindelar jamais foi esquecido, sendo eleito o melhor atleta austríaco do século XX em pesquisa realizada em todo o país.

Se não pode contar com o melhor jogador do país anexado, Adolf Hitler, austríaco de nascimento, teve a ajuda, por ironia, da seleção inglesa para mostrar seu poder. Em 14 de maio de 38, o English Team foi a Berlim enfrentar a Alemanha. A realização do amistoso foi muito criticada na Grã-Bretanha, porque seria uma forma de referendar o regime nazista. Mas o governo inglês achou que a partida poderia ser um instrumento para melhorar as relações diplomáticas entre os dois países. Os ingleses venceram o jogo: 6 a 3. Mas o resultado foi extremamente positivo para Hitler. Mais importante do que o placar foi a imagem dos jogadores da seleção da Inglaterra fazendo a saudação nazista antes do início da partida. Uma cena (acima) que até hoje causa repulsa entre muitos britânicos.

A ditadura Franco influenciou para que Di Stefano fosse contratado pelo Real MadridO documentário também mostra a relação do ditador espanhol Francisco Franco com o futebol. Ao contrário de Hitler e Mussolini, o governo Franco, devido à teórica neutralidade na Segunda Guerra Mundial, resistiu ao fim do conflito. Mas o líder fascista liderava um país industrialmente atrasado, bem mais pobre que outras nações européias. E, apesar de não gostar particularmente de futebol, viu no esporte uma forma da Espanha passar a ser conhecida positivamente no exterior. E o Real Madrid acabou sendo um instrumento para isso.

O filme produzido pela BBC mostra que o governo espanhol influenciou diretamente para que o argentino Di Stefano, um dos melhores do mundo nos anos 50, fosse jogar no Real em 1953, e não no Barcelona, o que era dado como certo. Di Stefano chegou a fazer três amistosos com a camisa do Barça, mas a diretoria do clube foi pressionada pelas autoridades a abrir mão do jogador. Com o argentino, o já forte clube da Catalunha provavelmente se transformaria numa potência, reforçando uma região que sempre fez forte oposição ao regime central. E que sempre desejou se livrar do ditador. Colocando o craque no Real, Franco fortaleceria a capital, onde seu governo estava baseado.

Entrevistado no documentário exibido pelo SporTV, Di Stefano afirma que não foi jogar no Barcelona por “problemas burocráticos”. Essa burocracia é revelada no programa. O governo Franco ameaçou o presidente do Barça de realizar uma rígida inspeção fiscal em sua companhia têxtil, que poderia inviabilizar seu negócio. O “acordo” ajudou o Real, liderado pelo craque argentino, a conquistar cinco título consecutivos da Copa dos Campeões da Europa (de 1956 a 60), ajudando a Espanha a se tornar conhecida na Europa e no mundo não só pela ditadura que durou 25 anos. Mas também pelo seu poderoso futebol. O Real foi um “embaixador da Espanha”, como o próprio Di Stefano reconhece na entrevista. E, involuntariamente, um embaixador da ditadura Franco.

Dica: Além do documentário, uma boa dica para quem deseja saber mais sobre a relação futebol-política é o livro “Vencer ou morrer – futebol, geopolítica e identidade nacional”, escrito pelo historiador Gilberto Agostino.

O documentário “Fascismo e futebol” vai ser reprisado na terça-feira (dia 30), às 22h30 (de Brasília), no SporTV 2

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